
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se irritou com o anúncio do lançamento da “aposta da Caixa”, plataforma de apostas online do próprio banco estatal, e deve convocar o presidente da instituição, Carlos Vieira, para uma reunião assim que retornar da viagem que faz à Ásia. A intenção do chefe do Executivo é demovê-lo da ideia.
A criação do sistema foi anunciada semana por Vieira em entrevista ao site Tempos de dinheiro. Segundo ele, a previsão seria arrecadar até R$ 2,5 bilhões no próximo ano com a plataforma, que entraria em operação no final de novembro.
Assessores do presidente e fontes da cúpula do banco confirmaram o incômodo do presidente com a iniciativa. “Lula vai mandar cancelar”, disse um auxiliar do Planalto ao UOL.
Segundo aliados do presidente, a iniciativa contrária ao discurso do próprio governo, capitaneada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de sobretaxar as apostas.
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Um dos argumentos da equipe econômica para a medida é o vício gerado pelas apostas, um problema de saúde pública que acarreta prejuízos sociais à população, especialmente às camadas de baixa renda.
No início do mês, a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda publicou uma instrução normativa proibindo a realização de apostas em apostas por meio de contas de beneficiários do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Funcionário de carreira da Caixa, Vieira foi indicado à presidência do banco ainda em 2023 pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara, em um acordo do governo com o chamado Centrão. Apesar da saída do PP e do União Brasil da base governamental, em setembro, ele foi desligado no cargo.
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Depois que a Câmara derrubou a medida provisória (MP) 1.303, que previa, entre outras medidas de aumento de arrecadação, uma taxação maior às apostas, Haddad prometeu enviar novos projetos de lei no mesmo sentido.
Criação de “bet da Caixa” gera críticas de opositores e aliados do governo
A contradição entre o discurso do Executivo e o anúncio da criação da “aposta da Caixa” gerou críticas de opositores e até mesmo de aliados do governo Lula.
Uma das primeiras a se manifestar nas redes sociais foi Nathalia Rodrigues, economista mais conhecida como “Nath Finanças”, que integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o “Conselhão”.
“Olha, sinceramente… chega!”(…) “Perceberam que o dinheiro das apostas estava indo pra fora do país e, em vez de proibirem, vão criar mais uma casa de apostas pra arrecadar ainda mais”, criticou.
A dupla de senadores Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e Eduardo Girão (Novo-CE) gravaram um vídeo convocando um movimento contra a iniciativa. Eles prometeram ir à Justiça contra a plataforma de apostas estatal.
“Precisamos barrar o mais rápido possível e evitar que a tragédia do endividamento se abata ainda mais sobre as famílias brasileiras”, disse Girão.
A também senadora Damares Alves (Republicanos-DF) citou a contradição da iniciativa com a defesa do governo federal de combater os contratos de apostas online.
“Talvez um dos maiores retrocessos morais e sociais da história recente do país. O mesmo governo que dizia querer controlar o dano agora decide que ele próprio será o agente da exploração, desenvolvendo um banco público, símbolo da confiança nacional, em uma casa de apostas oficial”, disse a parlamentar em discurso na tribuna do Senado.
O anúncio também foi criticado pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). “Uma instituição [Caixa]que há mais de 160 anos simboliza a presença social do Estado brasileiro, agora se coloca no mesmo mercado de empresas que lucram com o vício, a ilusão e o endividamento. É uma contradição profunda: um banco público de fomento social convertendo-se em operadora digital de jogos de azar”, afirmou a entidade em nota.
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