Poucas horas após o início da contagem de votos das eleições para a presidência da República da Irlanda, realizadas na sexta-feira (24), a parlamentar de extrema-esquerda, Catherine Connolly, declarou estar “absolutamente encantada” com os resultados iniciais, que apontam para uma vitória sobre a democrata-cristã Heather Humphreys, do governador Fine Gael.
Deputado independente de 68 anos, Connolly sucederá ao trabalhista Michael D. Higgins na presidência, cargo que na Irlanda, é essencialmente representativo e quase simbólico.
“Estou absolutamente encantado com o resultado e quero agradecer a todos que me apoiaram”, declarou Connolly, que conta com o apoio do bloco progressista da Câmara.
Ao passo que a deputada confirmou a sua vitória iminente, o secretário-geral do Fine Gael, John Carroll, também se manifestou nesse sentido, parabenizando Connolly, que, segundo ele, é radical demais para uma posição essencialmente cerimonial e unificadora.
Crítica de longa data da União Europeia em uma Irlanda majoritariamente pró-UE, Connolly esteve longe de ser um nome conhecido do grande público e frequentemente recebia críticas por suas posições radicais de esquerda.
Em sua polêmica mais recente, em setembro, ela foi criticada por mais uma de suas opiniões sobre o grupo terrorista Hamas, que ela disse ser “parte do tecido do povo palestino”.
Segundo ela, “dependemos do Hamas para obter números relacionados às mortes”, se referindo aos boletins diários de óbitos divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, estes, contestados por Israel.
“[O Hamas] foi eleito pelo povo na última eleição. Recebeu apoio esmagador em 2006 ou 2007. Eles fazem parte da sociedade civil da Palestina”, disse em um programa de rádio irlandês.
Após as polêmicas, ela afirmou que “condenava veementemente” as ações do Hamas, ao mesmo tempo em que criticava Israel por realizar o que ela chamou de “genocídio” na Faixa de Gaza.
Para além da acusação de genocídio, Connolly chegou a afirmar que Israel atua como um “Estado terrorista” e que “ambos os lados cometeram crimes de guerra”.
A Irlanda é considerada um dos países europeus mais atuantes na causa Palestina. No ano passado, Tel Aviv fechou sua embaixada no país europeu depois que o governo afirmou que se juntaria ao processo da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ) por possível genocídio na Faixa de Gaza.
“A Irlanda ultrapassou todas as linhas vermelhas em seu relacionamento com Israel”, declarou, na ocasião, o ministro das Relações Exteriores, Gideon Saar, apontando uma “extrema política anti-Israel do governo irlandês”
O primeiro-ministro de centro-direita terá que atuar junto com Connolly
Com a confirmação dos resultados, o primeiro-ministro da Irlanda, Micheál Martin, considerado de centro-direita e Connolly terão que atuar juntos, mesmo com ideologias distintas.
Como parte do primeiro gesto diplomático, a futura presidente irlandesa agradeceu a “todos” pelo resultado iminente, inclusive “aqueles que não votaram em mim”.
“Entendo as preocupações deles sobre quem acredita que os representará melhor”, disse ela à imprensa no centro de contagem de votos em Galway (oeste), cidade onde foi prefeita entre 2004 e 2005.
O fraco resultado de Humphreys, de 62 anos, é visto como uma esperança pelo bipartidarismo de centro-direita do Fine Gael (no poder desde 2011) e do outro grande partido nacional, o Fianna Fáil, com o qual compartilha o governo desde 2016.
Apesar da popularidade de Connolly entre os jovens e da vasta experiência política de Humphreys, nenhum dos dois gerou muita excitação durante a campanha, na qual quase metade do eleitorado afirmou não se sentir representado por eles.
A contagem dos votos continua hoje, e o nome do vencedor deverá ser anunciado no final da tarde no Castelo de Dublin.
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